6/09/2006

Em que País estava a ministra da Educação?

Sucedem-se os ataques violentíssimos aos professores como únicos responsáveis pelo desaire do ensino público (note-se, público, não privado, como se eles não fossem os mesmos…). Caso é para perguntar à Sra Ministra onde andava e que informação tinha sobre o que se passava, de há trinta anos para cá, no Ministério que agora tutela. Ninguém chega a Ministro sem saber o que está para trás. Mas nada se nota. Porque tudo o que diz publicamente, tal como é traduzido pela comunicação social, não se refere nunca aos tremendos erros do passado da responsabilidade única do seu Ministério e dos governantes. Se não está bem informada do passado, aqui ficam alguns dados que explicam bem como se pode ter chegado aos descalabro que apregoa. E se alguns erros crassos do Ministério da Educação são antigos mas outros continuam a ser implementados ainda hoje. Porque os professores, os que dão aulas mesmo, nunca foram tidos nem achados apesar de serem os únicos que conhecem a realidade. E os sindicatos nunca os defenderam, ao contrário do que se pode pensar.

PERGUNTA-SE POIS, SRA MINISTRA, ONDE ANDAVA quando o seu Ministério…

1-…aprovou cursos de professores primários em que se proibiam as cópias e a memorização da tabuada (Institutos Piaget e quejandos…)

2- …deixou professores primários dar aulas em aldeias remotas em escolas sem água e sem luz e com alojamentos dignos de ermitas? E todos ou outros em verdadeiro trabalho missionário por esse país fora?

3- …deixou que o concurso de professores enviasse, anos e anos a fio, pessoas com uma qualificação de nível superior (as que devia mais estimar) pelo país inteiro, à custa de suas famílias destroçadas e dos filhos que não podiam ter ou ter consigo?

4-…ignorou ostensivamente que eles pagavam os transportes do seu bolso, viajando 100 -120 quilómetros até, sempre sem qualquer ajuda de custo, diminuindo dramáticamente os que lhes sobrava no fim do mês? Não seria isto imoral e desumano?

5- …teve inúmeros Ministros que se sucediam a ritmo alucinante, cada um puxando pelos seus galões de docentes universitários, vomitando reformas continuamente e sempre sem ter em conta a sua adequação, implementação e financiamento?

6- …deixou que a dotação financeira de uma escola secundária fossse absolutamente ridícula durante décadas, mal dando para pagar a água, luz, os edifícios escolares se degradassem de tal modo que nenhum professor se aventurava nas instalações sanitárias dos alunos, e não havia recintos desportivos ou actividades extra-escolares?

7- …permitiu horários dos alunos que alcançam as 8-9 horas por dia, uma carga insuportável para qualquer pessoa? (tive uma turma destas este ano lectivo, e eu dava a 9º aula do dia…)

8- …não se preocupou com o tempo de Estudo dos alunos. Quantas horas sobram semanalmente para os alunos estudarem? Na escola, onde se pode estudar se não há salas de estudo organizadas e, em muitas, as bibliotecas, se funcionam, não têm espaço para tal? Será em casa, à noite, com pais que se demitem cada vez mais da sua função de vigilantes e educadores?

9-…esvaziou o quadro das escolas de funcionários ( os antigos contínuos), deixando que eles, neste momento, sejam poucos, mal preparados e pouco mais do que empregados de limpeza?

10- …obrigou os professores (especialistas nas suas matérias, não se esqueçam) a passarem muitas horas extra-horário, a fazerem tarefas administrativas que antes competiam aos funcionários não-docentes, ou então em reuniões absolutamente improdutivas mas obrigatórias? Não sabia que os professores já passavam muitas noites e fins de semana a preparar aulas e material lectivo?

11- …permitiu que o Sistema Disciplinar se esvaziasse, em nome da retenção quase obsessiva de alunos dentro de portas e do aumento da população discente nas escolas, minando sistematicamente a autoridade dos professores? Este ano, sei que alunos com comportamentos absolutamente irregulares, e até criminosos, com 20 ou mais participações disciplinares, não foram expulsos sequer nem submetidos a nenhum programa de reabilitação por especialistas credenciados… E se eles podem bater nos professores, ai do professor que toque, mesmo ao de leve, no aluno. Porque reduziu o Ministério o poder de sanção dos professores? Será que os alunos – ou agora, até os pais- são mais especialistas de Pedagogia do que quem realmente a estudou?

12-…só deu atenção ao número de computadores por escola e ao acesso à Internet mas não permitiu aos alunos compreender o poder dos Média?Afinal os alunos passam o resto do escasso tempo diário a ver uma televisão que lhes mostra só publicidade de telemóveis, futebol, escândalos e anedotas… Os valores dos jovens hoje são ensinados pelo matraquear de televisões mal regulamentadas. Porque não age o Ministério sobre elas também? Porque será que sempre abdicou da sua função reguladora deixando que canais abertos dêem pornografia encapotada, publicidade que ofende os direitos humanos e dos animais, programas impróprios a horas do jantar de família?Porque nunca interagiu o Ministério da Educação com o da Cultura?

13- …permitiu que se extinguissem os Exames por puras razões estatísticas? Ninguém no Ministério sabia que era preciso separar os que sabiam dos que não sabiam, e desde o início da escolaridade? Porque facilitou sempre a passagem dos que tinham níveis negativos?

14- …deixou que as escolas tivessem apenas um psicólogo (quando o tinham, claro) que além de fazer sozinho a orientação vocacional, não tinha tempo para lidar com os casos mais graves que surgiam nos alunos? Porque, entre eles, não havia futuros desajustados da sociedade, nem doentes mentais, nem vítimas de abuso sexual, nem de violência doméstica, nem problemas de droga. Ou havia?

15- …não se deu conta da crescente feminização das nossas escolas? Por que razão isso aconteceu, é simples- ser professor era (é) das tarefas mais exigentes, mal pagas, de carreira mais difícil e incerta. Portanto, óptima para o lado mais fraco da nossa sociedade. Depois, com algum malabarismo, ainda deixava algum tempo livre para as tarefas domésticas. Os homens, simplesmente não se sujeitavam a isto e partiam para outras profissões, mesmo dentro da função pública como para repartições e organismos de gestão do Ministério da Educação. Esta acomodação a padrões de sociedade retrógrados nunca incomodou o Ministério?(A propósito, os professores-homens estão a voltar ao ensino, não porque sintam vocação, mas porque há falta de empregos…)Podia continuar estas interrogaçãoes que apontam para coisas que a Sra Ministra, estranhamente prefere, não falar. O passado é negro, concordo, as estatísticas não se podem ignorar, mas a culpa não é, SEGURAMENTE, dos professores.Porque os que resistiram a todos estes erros da responsabilidade exclusiva do Ministério que tutela são quase heróis. Que mereciam ser estimados e bem pagos para permanecer na profissão. Sabe a Sra Ministra porque é que, em Inglaterra, já ninguém quer ser professor e andam à procura deles em Espanha e até em Portugal ?

*bpachecop@hotmail.com. Professora do ensino secundário, 32 anos de serviço docente, dos quais14 anos de itinerância pelo país até chegar à zona de residência, e com a perspectiva de 42 anos de carreira contributiva até à reforma. Percebe umas coisas de cinema. Consegue trabalhar 12, 15 horas por dia, se fôr preciso. Sabe ler e escrever. Ah, e fala bem inglês.

09/06/2006 in Primeiro de Janeiro

Ora, aqui está uma boa medida...


Governo vai colocar 2500 desempregados a limpar matas


O Governo vai obrigar 2500 desempregados inscritos nos centros de Emprego e Formação Profissional e beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) a trabalhar na limpeza de matas e manutenção de infraestruturas, no âmbito do combate aos fogos florestais.
Segundo a edição desta sexta-feira do jornal Correio da Manhã, que cita o despacho publicado ontem no Diário da República, as pessoas que se recusarem a aceitar o referido trabalho, «perdem o seu direito à recepção da prestação de desemprego».
Os desempregados seleccionados têm ainda direito a receber do Instituto de Emprego um subsídio complementar ao subsídio de desemprego, enquanto os beneficiários do RSI passam a receber um subsídio ocupacional. Os valores, quer do primeiro, quer do segundo, não foram, no entanto, divulgados.
Desenvolvido prioritariamente entre Abril e Outubro de cada ano, o Governo estipula ainda que sejam as entidades promotoras destes programas ocupacionais (municípios, freguesias, associações humanitárias, bombeiros, etc.) a proceder ao «pagamento de despesas de transporte e alimentação, bem como do seguro de acidentes pessoais dos destinatários».


09-06-2006 Correio da Manhã